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Em 08 de Dezembro de 2019 às 11:52
Crise do óleo completa cem dias

RIO — Cerca de cem pesquisadores participaram entre a última sexta-feira e este domingo de uma reunião promovida pelo governo federal, marcando o lançamento oficial das equipes que analisarão o derramamento de óleo na costa do Nordeste , que devem debater ações de curto, médio e longo prazo. A tragédia ambiental completará cem dias neste domingo.


Os pesquisadores foram divididos em sete grupos de trabalho, que abrigarão questões como sensoriamento remoto, impacto socioeconômico e conservação dos mangues atingidos pelo óleo. Os cientistas definirão quais serão os temas prioritários. Ainda não há detalhes sobre como conduzirão os trabalhos — já que não abandonarão seus empregos ou projetos pessoais —, os locais em que se reunião e o prazo para entrega de seus projetos.


O encontro foi realizado na Escola de Guerra Naval, na Urca , Zona Sul do Rio. O deslocamento dos cientistas que não moram na cidade foi pago pelo Grupo de Acompanhamento e Avaliação ( GAA ), composto por Marinha , Ibama e Agência Nacional do Petróleo ( ANP ).


Questionado pelo GLOBO sobre seu orçamento para conter a crise do petróleo, o GAA afirmou que “os custos referente às ações de combate ao derramamento de óleo estão sendo computados e serão apresentados posteriormente”.


A reportagem também procurou os governos dos 11 estados atingidos pelo óleo. Rio de Janeiro e Espírito Santo , os últimos a registrarem a substância em suas praias, e em uma quantidade ínfima , afirmaram que não foi necessário remanejar verbas não previstas no orçamento para atividades no litoral.


A Paraíba , estado onde o óleo foi avistado pela primeira vez , no dia 30 de agosto, também informou que não precisou recorrer a seu orçamento. O governo atribuiu o fato de ter seu território menos afetado do que o de outras localidades do Nordeste às correntes marítimas. Ainda assim, como registrou manchas de óleo em 16 praias, recorreu a ações como inspeção das águas, inclusive por mergulhadores, e captura de imagens aéreas com drones.


O Piauí declarou um gasto tímido — apenas R$ 7 mil —, usados com a aquisição de equipamentos de proteção individual , de coleta de material nas praias e análise da água. 


O governo de Pernambuco afirmou que o cálculo dos custos provocado pela crise deve ser concluído até o final do ano. O estado foi um dos que registraram mais manchas em pontos turísticos, como a Praia dos Carneiros e Porto de Galinhas. Ao todo, foram coletados cerca de 1.500 toneladas de óleo em 47 praias e oito rios, em um trabalho que envolveu a instalação de mais de 3 mil barreiras de contenção. Também houve investimentos em transporte — inclusive da substância retirada do litoral —, equipamentos, veículos e serviços.


No Maranhão , os gastos também não foram totalmente computados. O governo estadual, porém, ressaltou que contou com o apoio de equipes de órgãos federais, como a Marinha e do Ibama.


A Bahia também viu o óleo chegar a pontos turísticos, como o Arquipélago de Abrolhos e o Morro de São Paulo . O governo estadual desembolsou cerca de R$ 736 mil nas operações contra as manchas de óleo, inclusive na aquisição de camisas de proteção ultravioleta e no uso de lanchas para vistorias.


O Rio Grande do Norte não detalhou suas ações, mas divulgou que a crise ambiental custou cerca de R$ 547 mil aos cofres do estudo — parte dos recursos veio das secretarias de Agricultura (R$ 15 mil) e Saúde Pública (R$ 50 mil).


Alagoas foi o estado que declarou mais gastos com o derramamento de óleo — R$ 4,3 milhões, segundo o Instituto do Meio Ambiente (IMA/AL), órgão responsável pela destinação das mais de 2.400 toneladas de material retirado da costa do estado. Além do custo da remoção, também foi necessário tomar medidas como contratar 590 pessoas para remover a substância da areia.


Os governos de Ceará e Sergipe não divulgaram seu orçamento.


Para Leon Aguiar, diretor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte, os estados só terão um cálculo consolidado de suas despesas no fim do verão, em março.


— Temos uma situação menos tensa, mas não resolvida, porque ainda não sabemos se pode chegar mais óleo. Sem termos esta certeza, ainda manteremos equipes de monitoramento em prontidão, e issa pesa no orçamento — explica. — Agora vem a fase pós-crise, em que os estados também poderão analisar os estragos que vão perdurar, principalmente na área ambiental , como a conservação dos mangues e os resíduos nos rios, além das questões sociais , como o atendimento aos pescadores.


Aguiar avalia que os estados devem comparar sua renda com o setor turístico neste verão com a registrada nos anos anteriores.


— Aí veremos qual foi o impacto do óleo na atividade econômica — ressalta Aguiar, que condena a suposta falta de apoio do governo federal aos estados — Houve uma falha de comunicação, principalmente entre o início da crise, em agosto, até meados de outubro. (Do O Globo)

Rede Pernambuco de Rádios